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Factoring dá prejuízo a 450 executivos

fraude1Um suposto esquema de pirâmide estourou na última sexta-feira no coração financeiro de São Paulo, deixando prejuízos e gosto amargo na boca de um grupo bastante seleto de investidores. A empresa de factoring conhecida como Porto Forte Fomento Mercantil, uma sociedade anônima de capital fechado que faz empréstimos para pequenas e médias empresas, suspendeu o resgate de suas ações depois que parte de sua diretoria descobriu a existência de um rombo patrimonial em suas contas.

As cifras envolvidas não são bilionárias como no escândalo do investidor Bernard Madoff – trata-se de algo bem inferior a isso pelo que se pode apurar até o momento. Mas o estrago ganha relevo devido ao peculiar perfil dos investidores que se deixaram levar pela promessa de ganhos expressivos. Banqueiros de investimentos, analistas de ações, gestores de carteiras e advogados compõem o quadro de acionistas da Porto Forte que até o início da semana passada acreditavam ter feito um excelente negócio. Assim como no fundo de Madoff, as ações da Porto Forte ofereciam, ao menos virtualmente, um rendimento fixo, sob a forma de dividendos. Algo que girava em torno de 160% do Certificado de Depósito Interfinanceiro. Era um dividendo obrigatório fixo, algo inusitado em se tratando de um investimento de renda variável. Entretanto, o ganho só se tornava real quando o investidor vendia suas ações para a tesouraria da Porto Forte. Ao todo, hoje são cerca de 450 acionistas e, além dos qualificados profissionais ligados ao mercado financeiro, há ainda amigos e familiares que até agora acreditavam ter recebido deles aquela tão ansiada dica preciosa de aplicação. Entre esses acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim e dono da gestora de recursos Perfin, conhecido no mercado financeiro como Beto Moraes. Ele passou a investir na Porto Forte no ano passado e ingressou no conselho consultivo da empresa, sem participação na gestão. Seu nome e assinatura constam de atas das assembleias de acionistas de 2010. Procurado por meio da assessoria de imprensa do grupo Votorantim, Moraes não foi encontrado para comentar.

Criada em 2002 por um grupo de jovens formados nas melhores faculdades de administração, economia e contabilidade do país, a Porto Forte foi crescendo na base do boca a boca. Animados com os retornos, uns foram indicando o investimento aos outros e há relatos de gente que saiu antes de o esquema estourar e ganhou muito dinheiro. O sócio principal da empresa e que ocupa a sua presidência é o economista formado na Unicamp Guilherme Affonso Ferreira de Camargo, de cerca de 35 anos de idade, e que no início da carreira atuou no departamento financeiro da multinacional Procter & Gamble. É ele quem concentra hoje a ira dos investidores, que acreditam que foram traídos por Guilherme em sua confiança.

Entre os acionistas, um dos mais expressivos é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, herdeiro do grupo Votorantim

Na prática, a Porto Forte funcionava como uma espécie de fundo, que captava recursos dos investidores com a venda de suas ações. Quando um desses acionistas queria sair, a tesouraria recomprava os papéis, dando liquidez ao investimento. Isso fazia com que o quadro acionário da Porto Forte tivesse uma alta rotatividade, variando de acordo com o movimento de resgates e de aportes de novos investidores via ações preferenciais. Ou seja, uma sociedade anônima de capital fechado vinha captando recursos de um grande número de acionistas no mercado à margem de qualquer tipo de regulamentação ou fiscalização.

Paralelamente a esse mecanismo de acionistas, conforme crescia, em 2008 a empresa criou um fundo de direitos creditórios (FIDC) que leva o seu nome, hoje com patrimônio de cerca de R$ 50 milhões.

Quando o fundo foi criado, o dinheiro dos acionistas passou a ser usado para comprar cotas dos fundos, não quaisquer cotas, mas aquelas chamadas de subordinadas. São as cotas mais arriscadas, que devem arcar com a inadimplência eventual da carteira de recebíveis e que, por terem mais risco, podem acabar oferecendo um retorno também maior. As chamadas cotas sênior são as mais seguras numa estrutura como essa. Parte das cotas sênior do fundo estava com investidores como a gestora BRZ e a Valora. Em 2010, o FIDC Porto Forte Multissetorial reportou que o rendimento de suas cotas subordinadas foi de impressionantes 46% no ano.

Há poucos dias, esse rendimento começou a mostra-se bom demais para ser verdade. Segundo o relato de investidores e pessoas familiarizadas com a questão, foi constatado um rombo patrimonial da empresa Porto Forte. Até o momento, o fundo estaria a salvo de problemas. A cifra à qual o conjunto de mais de 450 investidores da empresa acreditam ter direito não existe. O patrimônio da empresa, embora positivo em R$ 12 milhões, é insuficiente para pagar o principal e os dividendos aos quais os acionistas acreditam ter direito, de acordo com a política de remuneração acertada. As perdas para os investidores da empresa devem ser de, no mínimo, 50%. A rigor, entretanto, esses investidores de perfil bastante qualificado deveriam saber dos riscos envolvidos no investimento em ações, que pressupõe renda variável e não garante liquidez ou retorno.

Os problemas teriam sido descobertos por Marcos de Alcântara Machado, um ex-executivo da gestora Claritas, também investidor da Porto Forte e que, na página da empresa na internet, aparece no quadro de sócios.

Luciana Lima, vice-presidente da Porto Forte, que chegou à empresa em 2009 para cuidar do FIDC, falou ao Valor ontem e contou ter convocado uma reunião de sócios ocorrida no último dia 17 para dar ciência a todos de que “havia indícios de má gestão e possível utilização indevida do caixa.” “Também houve venda de ações em desacordo com o valor contábil”, diz ela. Luciana diz que Guilherme Camargo comprometeu-se a entregar um relatório respondendo a essas duas questões até o dia 4 de março. “O Guilherme era responsável pela gestão do caixa e era o executivo de relação com investidores da empresa.” Por conta das inconsistências, diz a executiva, a compra e venda de ações pela tesouraria da empresa foi suspensa temporariamente. Essa decisão disseminou o pânico entre os investidores. “Mas a empresa não quebrou. Ela tem patrimônio líquido positivo de cerca de R$ 10 milhões e caixa”, afirma ela. O balanço da factoring Porto Forte do primeiro trimestre de 2010 mostra que a factoring operava com um prejuízo de R$ 384,8 mil. Em igual período de 2009, a empresa também havia registrado um prejuízo de R$ 412,3 milhões.

Quanto ao fundo, Luciana afirma não haver problemas. “O fundo está operando normalmente, é muito difícil entrar em liquidação. Tem uma subordinação de 25%, R$ 10 milhões em caixa, e os investidores são de longo prazo.”

Apesar de diversos interlocutores garantirem que o FIDC da Porto Forte não tem problemas, se houvesse saques expressivos nas cotas subordinadas, o fundo deixaria de cumprir a meta de 22,5% de subordinação. A Socopa, administradora do fundo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que já foi questionada pela CVM, mas que comunicou que não há nenhuma irregularidade e que, se há algum problema, não é no fundo.

Acionistas ouvidos pelo Valor dizem ter recebido dos sócios gestores da Porto Forte a informação de que Guilherme Camargo teria desviado dinheiro da empresa, inclusive para o exterior. A diferença patrimonial, dizem esses investidores, seria da ordem de R$ 10 milhões. Luciana diz não saber dizer se houve algo nesse sentido (desvio). “Contratei a Price para fazer um levantamento.” Os investidores dizem também que a Porto Forte teria emprestado dinheiro a uma empresa da família de Guilherme.

Fonte: Carolina Mandl, Adriana Cotias, Vanessa Adachi e Alessandra Bellotto, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

3 thoughts on “Factoring dá prejuízo a 450 executivos

  • É incrível como a ganância em ganhar dinheiro fácil leva pessoas, até gente bem qualificada, a cair em um golpe desses. Como diz um grande amigo meu: “todos os dias acordam no Brasil 50% de trouxas e 50% de espertos quando se cruzam dá sempre algum tipo de negócio”. É a pura verdade.

  • Joao Paulo Pereira

    Conheco a Porto Forte, pessoal é excelente

    Esse Guilherme Camargo tem que aparecer para dar explicacoes

  • Eliana

    Outra Union National FIDC ? Aliás que ninguem fala mais nada, caso já esquecido? Lamentavelmente isto está se tornando hábito em detrenimento ao seguimento do Fomento Mercantil – Factoring. É muito triste, fazer parte de um grupo seleto, ético e distinto que lutou tanto para desmarginalizar o factoring e agora acontece todas estas maselas. Muito triste e pior, tudo fica impune.

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